Sem dúvida imaginamos que sua resposta deve ser um frustrante “NÃO”, assim como aqueles que têm limitações de acesso ao ambiente urbano!
(mesmo que façam um esforço extremamente desgastante, apertando o passo – quando são capazes – seu destino até o outro lado da via estará incerto). Não precisamos de muito esforço para comprovar...
...basta experimentar ou ficar observando as faixas de pedestres com semáforos para tirar suas próprias conclusões. (verdadeiramente “nossos parceiros eletrônicos” não estão tão amigáveis das pessoas com necessidades especiais de deslocamento nas cidades).
Sabemos que a autonomia de “ir e vir” significar um tesouro, mas com este dilema resta apenas ao cidadão idoso, por exemplo, renunciar ao direito de andar pelos centros urbanos e ficar à espera de alguma decisão que parece não ser prioridade para os fornecedores de soluções de mobilidade. (então que Deus nos livre e guarde por enquanto!)
Mas qual seria o motivo desta calamidade sem precedentes a uma necessidade que é vital?
- Bem, uma delas é que você não está caminhando à velocidade de 4,3 km/h ou 1,2 m/s, que é o padrão normalmente estabelecido no cálculo do tempo de sinal verde para pedestre dos semáforos. E para complicar mais ainda, o “sinal” começa a piscar depois de passados apenas insuficientes segundos - provocando um desespero que poderia ser evitado.
E para rechear - combinando perigo com aventura - desejamos que o leitor construa sua opinião a partir do que será exposto, relacionando a velocidade de marcha no caminhar com a idade e o gênero do pedestre:
Faixa etária (anos) | Homens caminham (m/s e km/h) | Mulheres caminham (m/s e km/h) |
40 – 49 | 1,35 e 4,86 | 1,27 e 4,57 |
50 – 59 | 1,34 e 4,82 | 1,27 e 4,57 |
60 – 69 | 1,26 e 4,54 | 1,07 e 3,85 |
70 – 79 | 1,09 e 3,90 | 1,02 e 3,67 |
Mesmo sabendo que estabelecer a sincronia dos semáforos significa desenvolver planos de tráfego, cujo cálculo leva em conta o fluxo de veículos na via, o volume de pessoas que atravessam naquele ponto, o tempo médio de deslocamento e até a largura da via...
...em outras palavras, devemos concluir que esse conjunto representa nada mais do que a prioridade que não é dada aos pedestres, em nome da fluidez aos veículos...
(estes valores fornecem alguns instrumentos sim, que tentam reconciliar o conflito entre veículo e pedestre, no entanto, a facilidade com que as pessoas têm de se deslocar na cidade fica novamente enfraquecida em nome de outros atrativos).
Pegando como exemplo as pessoas idosas, podemos refletir sobre algumas situações inquietantes e até transgressões desses pedestres que possuem limitações de locomoção, para mostrar que o idoso, muitas vezes, não é “tão inocente” assim:
1º) muitos ousam atravessar a via quando o sinal da faixa de pedestre encontra-se fechado...
(situação que pode vir a ser fatal, mesmo que o veículo esteja em baixa velocidade)
2º) determinados idosos não estão atentos o suficiente para ver se os carros verdadeiramente estão parados esperando sua passagem. É de domínio popular que muitos motoristas não brecam os veículos para que o caminhante conclua a passagem.
(Nestes casos o atropelamento pode ser o resultado dessa atitude de risco)
3º) quando o idoso não obedece à sinalização, é comum vê-lo apressar o passo e efetuar uma “corridinha” para não ser atropelado ou “levar fina” de carros e motos durante a travessia na faixa de pedestres. (um risco costumeiro nos cruzamentos com semáforos)
4º) idosos que cruzam a via fora da faixa de pedestre.
(fica o alerta: caso ela não exista ou consiste em difícil acesso, solicite auxílio a outros transeuntes para efetuar o cruzamento até seu destino)
5º) se o idoso necessita de acompanhamento constante para o deslocamento, jamais deve dispensar essa supervisão.
6º) existem semáforos para pedestres “funcionando com tempos ociosos” e em “locais de baixo volume veicular”. Isso favorece o desrespeito a essa sinalização pelos motoristas colocando a vida do pedestre em risco.
8º) há semáforos “instalados indevidamente” que podem ocasionar: - espera desnecessária, estresse, encorajamento a desobediência, descrença ao semáforo além de pedestres expostos a avanços inesperados dos veículos entre outros.
9º) e para agravar a problemática, faltam faixas para atravessar a via, faltam passarelas, faltam calçadas mais largas e bem conservadas, assim como faltam iluminação e sinalização, entre outros.
A travessia de pessoas com dificuldade de locomoção tornou-se uma situação difícil de organizar, pois as cidades claramente apresentam um fluxo de pessoas maior do que de veículos - tanto que várias regiões dos centros das cidades foram transformadas em calçadões.
(as evidências de que o compartilhamento das vias precisa ser repensado nas cidades se manifestam por todos os lados, originando motivos de sobra para se priorizar o pedestre)
Quais seriam as SOLUÇÕES?
- SEMÁFOROS PARA PEDESTRES ACIONADOS POR BOTOEIRA
Essa ferramenta possui o benefício de parar temporariamente o fluxo veicular apenas no momento que é necessário, ou seja, ao ser solicitado por um pedestre que deseja realizar a travessia - geralmente é o tipo de semáforo para pedestre mais respeitado pela sociedade.
Usualmente localiza-se em locais de difícil travessia que se caracterizam por horários específicos de fluxo de pedestres, como escolas e fábricas, e com demanda não muito elevada e aleatória de usuários.
Sua desvantagem é evidenciada quando é acionado a curtos intervalos de tempo e o pedestre
imprudente resolve atravessar antes de o sinal abrir a seu favor; então quando aparece o vermelho para os veículos, não há mais pedestre em vista, o que leva o condutor a desrespeitar o sinal. Este problema geralmente aparece mais quando o fluxo veicular não é contínuo.
- AUMENTAR O TEMPO DOS SEMÁFOROS
Alguns sugerem aumentar o tempo para cada semáforo...
...mas outros afirmam que esse procedimento traz impacto no trânsito, ao originar congestionamentos, transtornos para motoristas e passageiros de ônibus, colocando os condutores contra os pedestres.
Em síntese é difícil mensurar um balanço oficial do impacto desta medida.
(mas nunca é demais lembrar que a preferência no trânsito é sempre do pedestre)
Mas, e se essa mudança for diluída com a adoção de outras medidas, como redução de velocidade em alguns pontos críticos e o incentivo ao uso de transporte público?
(soluções sustentáveis que criam um processo interessante de inclusão social, o que acham?)
- SEMÁFORO INTELIGENTE
É aquele conjunto semafórico no qual o idoso aproxima um cartão magnético do dispositivo eletrônico na botoeira, para informar ao sistema que ele necessita de mais tempo para atravessar a via. Isso também vale para outras pessoas com dificuldade de locomoção, como cadeirantes, obesos, grávidas e pessoas com crianças pequenas, por exemplo.
- EDUCAÇÃO
É de domínio público que a “Educação Formal” e a “Educação para o Trânsito” ainda carecem de estratégias duradouras, tanto nas escolas como nos órgãos responsáveis, para que consigam atingir melhores resultados.
No caso da “Educação para o Trânsito”, a questão é ministrada de maneira desacompanhada – enfatizando em especial e quase que exclusivamente as normas de trânsito -, realizando-se em períodos insatisfatórios – na Semana Nacional do Trânsito, como exemplo. (não existem ações contínuas, organizadas e correlacionadas)
O tema “Educar para o Trânsito” ainda não é visto como uma prioridade, não se consegue entrar pelos portões das Instituições responsáveis pelo “Saber”, de maneira plena. E assim não se consegue abrir espaço para vínculos entre os cidadãos. Os resultados são a inexistência de debates sobre a convivência social, sobre as condutas dos atores sociais frente às “diferenças” e às formas de inclusão que são construídas diariamente e principalmente sobre o tipo de cidade que queremos para viver.
(sem isso não haverá uma melhor qualificação de vida nas cidades, pois convivemos com uma mobilidade urbana individualista e insegura)
É preciso que se estabeleçam cenários em que se incentive o resgate da cidadania, do respeito e da coletividade, tanto nas escolas quanto nas famílias e em toda a sociedade– características essas que estão perdidas há muito tempo.
Mesmo sabendo que as cidades brasileiras não foram projetadas para o pedestre, sempre há tempo para participar, instruir-se, sugerir e reivindicar mudança na estrutura da cidade, principalmente porque a sociedade está envelhecendo. (é difícil, é complicado, mas da mesma forma não impossível deparar-se com soluções)
Nesse panorama desalentador, no qual as cidades não são reguladas para o idoso, a força mais potente diz que a velocidade de caminhada exigida para atravessar as ruas da cidade não condiz com a população idosa e suas diversas peculiaridades. Isso tem o efeito de fazer com que muitos idosos evitem sair casa!
Para a população idosa, a caminhada tem importante relação com a saúde e com a interação social. Os fatores que venham atrapalhar a movimentação desse público – como a dificuldade de atravessar ruas – podem indicar perda de autonomia e até mesmo de qualidade de vida.
Temos convicção que uma boa condição de caminhabilidade garantiria a segurança e mobilidade da população idosa e, principalmente, a redução de riscos de atropelamentos com esse grupo.
Sim, é preciso tempo, paciência, vontade, participação e pensamento coletivo para se conseguir qualidade de vida nas cidades!
Fica aqui o convite para que saiamos da zona de conforto e despertemos para o futuro, já que temos outros cidadãos que querem nos acompanhar na busca desse objetivo.
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