Ninguém sabe ao certo a origem do termo “sair a francesa”, que popularmente nos é equivalente à expressão “sair de fininho”, discretamente, sem ser percebido ou sem fazer alarde. Há historiadores que acreditam que essa expressão tenha sido criada pelos ingleses e seja tão antiga quanto a rivalidade entre os dois países. Ainda que não tenha descendência nem inglesa ou tampouco francesa, essa sempre foi uma característica minha, no entanto. Minha esposa, inclusive, costuma brincar me chamando de “amigo do fim”, devido ao meu hábito de sair cedo de eventos sociais e, quase sempre, procurando não ser notado.
“Mas onde você quer chegar com toda essa história, Rodrigo?” – você pode estar se perguntando.
Não se preocupe… Antes que você pense em “sair à francesa” desta página eu explicarei. Prometo!
Mas antes, é curioso pensar que no Brasil, como já mencionei em outro artigo, temos o registro de que o primeiro veículo a pisar… ou melhor, a rodar no nosso solo tenha sido trazido da França por Santos Dumont, conhecido como o “Pai da Aviação”, que desde muito jovem tinha muito interesse pelas “fascinantes máquinas modernas”. Por isso, em 1890, ele adquiriu seu primeiro carro, um Peugeot, que foi desembarcado no porto de Santos no ano posterior. Acontecimento que causou um enorme alvoroço.
O emblema da Peugeot, segundo o Jornal do Carro, surgiu em meados do século XVIII, bem antes de a francesa produzir automóveis. Por volta de 1850, a empresa precisou criar um logotipo para identificar seus produtos. Assim, foram feitos três escudos para diferentes categorias: uma mão, uma lua crescente e um leão. Depois de algum tempo, o leão passou a identificar os produtos da marca, e foi evoluindo as formas desde então. Ele já existia quando a Peugeot lançou seu primeiro motor a combustão, no fim do século XIX. O leão foi o escolhido desde sempre por transmitir força e nobreza. Contudo, entre os mecânicos e aficionados por carros, é comum ouvir aqueles que criticam duramente veículos de montadoras francesas, seja pelo custo de manutenção, seja pela desvalorização ou seja pela dificuldade na hora da revenda.
Sem carro por opção desde 2018, como já contei nesse artigo, é comum em situações onde o transporte público ou por aplicativo não me atendam, alugar carros. Isso me permite experimentar diferentes marcas e modelos, conforme a minha necessidade e conveniência. De lá pra cá, fora um amor de verão ou outro, nenhum fora capaz de me fazer esquecer aquela antiga paixão. Até agora…
Durante as últimas férias de inverno, aluguei um veículo por apenas um dia para um compromisso breve. Por não se tratar de nenhuma viagem longa que justificasse um carro maior, optei por um modelo compacto, como de costume. Porém, na hora da retirada do veículo no balcão da locadora, me foi ofertada a possibilidade de um upgrade para um veículo de melhor motorização. Como ficaria apenas uma diária e a diferença era consideravelmente baixa, resolvi aceitar.
Foi só quando a atendente voltou ao balcão de posse da chave do carro que a curiosidade acabou. Assim que ela deixou a chave sobre o balcão, fazendo reluzir aquele leão prateado no seu verso, foi que tive a certeza que apenas foi reforçada pela sua voz dizendo essas duas palavras: Peugeot 208. Nunca imaginei que sentiria algo parecido com o que senti ao entrar naquele carro. Aquela diária me transportou não apenas para os destinos que eu havia planejado, mas para outros sequer imaginados. A sensação de ter nas mãos aquela direção tão pequena me remeteu à minha infância, quando me imaginava no cockpit de um carro de formula 1.
Chegou a hora de dormir e minha vontade era reclinar o banco e ficar por ali mesmo… Quando acordei no dia seguinte, a primeira coisa que pensei foi em entrar naquele carro e sair dirigindo sem rumo, até que chegasse a hora de entregá-lo de volta à locadora. E quando dei por mim estava na serra gaúcha, em um passeio que não estava nem perto do meu roteiro original.
Chegando de volta à locadora no entardecer de um domingo ensolarado, enquanto o atendente recebia o veículo e fazia o checklist, lembro dele ter perguntado “E então senhor, gostou do carro?”. A primeira resposta que passou pela minha cabeça foi um “NOSSA… ADOREI!”. Mas me limitei a um simples “Eh, até que é bom…”. Mais para convencer a mim mesmo do que a ele.
Assim que o atendente me liberou, saquei o celular e fui logo chamando um aplicativo para voltar para casa. E sem sequer olhar para trás (antes que eu me arrependesse), saí da loja e, como de praxe, fiz uma nova “saída a francesa”. No mais amplo sentido do termo…
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