Recentemente, tenho lido em diversos artigos, entrevistas e assistido lives nos quais tem se falado muito em um “novo normal“. Obviamente que a expressão não diz respeito à esperança ou desejo de que, de agora em diante, tudo será como está no atual momento. Mas sim de que algumas questões devam ser revistas até que tudo volte ao normal. Aliás, é exatamente sobre isso que venho falar nesse artigo.
Como psicólogo e neurolinguista, procuro me ater (às vezes até demais) ao sentido que algumas expressões passam ou possam passar. Dia desses, refletia que se “novo normal” pode não ser a melhor das expressões para definir a fase pela qual passamos, há uma outra expressão que me causa ainda mais repulsa: QUANDO TUDO VOLTAR AO NORMAL.
É evidente que estamos passando por uma das maiores crises da história da humanidade, que traz consigo, além de uma quantidade incrível de mortes (mais de 500 mil em todo o mundo, até o momento), consequências de ordem econômica, social e psicológica sem precedentes. E o pior: não há a menor perspectiva de que o cenário vá melhorar. Porém, em resposta àqueles que acham que “nada nunca é tão ruim que não possa piorar”, eu costumo dizer que “quando se está no fundo do poço só há uma direção possível”.
A raça humana já passou por diversas pandemias, com diferentes graus de duração, letalidade e potencial de contaminação, como a gripe espanhola, a peste negra, a cólera, a varíola e a gripe suína, por exemplo. Todas, embora tenham sido capazes de dizimar boa parte da população em suas épocas, foram sucedidas por uma série de avanços, sejam tecnológicos, sociais, ou sejam na área da saúde. Avanços os quais, não fossem essas grandes crises mundiais, talvez não teríamos sidos mobilizados a buscar.
Dessa forma, convido o amigo leitor a olhar para além do pessimismo que essa pandemia suscita, e buscar a saída desse profundo e escuro poço. A necessidade do distanciamento social trazida pelo vírus fez acelerar uma tendência que parecia ainda distante da realidade de muitos trabalhadores, mas que hoje, além de ser a única opção viável, abre a possibilidade de que isso torne-se o “novo normal”: o home office, ou trabalho remoto.
Mas por que isso é importante no contexto do trânsito? A resposta me parece evidente… com menos trabalhadores saindo de casa para o trabalho teremos menos deslocamentos, menos automóveis nas ruas, menos engarrafamentos, menos barulho, menos poluição, menos problemas respiratórios e menos internações hospitalares. Em contrapartida, aos trabalhadores que não puderem se beneficiar dessa modalidade de trabalho, restarão ruas mais tranquilas, que permitirá deslocamentos mais rápidos e com uma melhor qualidade do ar. Exemplos como o da imagem acima, ondem, depois de 30 anos, moradores do norte da Índia puderam voltar a ver as cordilheiras do Himalaia devido ao baixo índice de poluição atmosférica ocasionado após algumas semanas de lockdown (isolamento).
Sendo assim, me questiono se o “voltar ao normal”, no que diz respeito ao trânsito, seja a melhor alternativa. Talvez o trânsito ideal encontre-se num meio termo entre a pandemia e o “normal”. Tenho também lido algumas pessoas defendendo a ideia de que, com o passar dessa crise, nos tornaremos mais conscientes e educados no trânsito. Receio não ser, nesse aspecto, tão otimista. Esse, no meu ponto de vista, é um poço do qual ainda não encontramos o fundo.
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