Recentemente, lia uma indicação do grande amigo Professor Carlão, o Livro Apocalipse Motorizado. A partir de uma história contada no capítulo MORTOS E FERIDOS: UM ACIDENTE?, pensei numa analogia que, à primeira vista pode parecer descabida, mas pode gerar alguma reflexão a respeito da quantidade de mortes que toleramos para manter um sistema tecnológico, no qual todos nós nascemos e não temos escolha além de tentar nos adaptar a ele.
Imagine que um grupo de cientistas pede um encontro com as lideranças políticas mundiais para discutir a introdução de uma nova invenção: o TELETRANSPORTE DE PESSOAS. Os cientistas explicam que os benefícios da tecnologia são incontestáveis, e que a invenção aumentará a eficiência e tornará a vida de todos mais fácil. O único lado negativo, eles alertam, é que para ela funcionar, uma pequena fração da população, aproximadamente 1,5 milhão de pessoas inocentes terão que morrer a cada ano devido à margem de erro no processo que ainda não é totalmente seguro. Se você estivesse entre essas lideranças políticas, concordaria em adotar ou não a nova invenção?
Ainda que essa seja uma tecnologia inviável fisicamente a não ser na ficção científica, seria algo que, sem sombra de dúvidas, revolucionaria e ressignificaria por completo a existência humana. Assim como o automóvel um dia já o fez. No entanto, é ético pôr à prova aproximadamente 1,5 milhão de vidas como temos feito anualmente para perpetuar uma tecnologia que, nem de longe, se mostrou a mais eficiente, sustentável e, principalmente, segura?
É interessante pensar que o primeiro automóvel do mundo, o Benz Patent-Motorwagen, inventado pelo alemão Karl Benz e patenteado em 1886, foi criado criado a partir de uma busca incansável do homem por liberdade. E apenas dois anos depois, era assinada a abolição da escravidão no Brasil, que ocorreu em 13 de maio de 1888, com a promulgação da Lei Áurea. Ainda hoje, entretanto, o homem cria coisas para servi-lo, mas se torna escravo de suas próprias criações.
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