Há alguns dias, um agente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) foi sequestrado na zona leste de São Paulo. A vítima estava anotando dados de uma ocorrência dentro da viatura, quando foi abordado por dos homens armados que entraram no carro da Companhia, encapuzaram o agente e rodaram pela região por aproximadamente duas horas. Felizmente os sequestradores liberaram o agente sem feri-lo e sem levar nada.
Esse é apenas um dos tantos episódios já ocorridos que ilustram o quanto essa categoria de profissionais está exposta a riscos nas ruas. No entanto, alguns riscos se apresentam de forma não tão aparente como aqueles oriundo da violência urbana. São aqueles provenientes da violência institucional.
Recentemente, escrevi questionando sobre a possibilidade do fim dos agentes de trânsito. Obviamente que não pelos mesmos motivos que eu expus no texto, mas muitas pessoas se posicionaram favoráveis a tal medida em seus comentários pelas redes sociais. Fato que, sinceramente, em nada me surpreende, em se tratando de uma sociedade que não admite ser fiscalizada, na qual a velocidade do condutor autuado não é questionada, mas sim a visibilidade do agente autuador.
O que me surpreende sim (e até assusta) são as violências às quais somos submetidos diariamente ainda do lado de dentro dos portões da empresa. Não quero aqui me aprofundar em questões como gestão humana, infraestrutura, equipamentos e tão pouco à questão salarial, sob pena de tornar esse breve texto reflexivo em um interminável e exaustivo mar de lágrimas e lamentações. Mas foquemos apenas em um fator, já trazido e explorado no artigo supracitado: Efetivo. Imagine que, em Porto Alegre, a última turma de agentes aprovados em concurso foi chamada em 2013. Atualmente, temos um efetivo que não chega a 500 agentes, para uma cidade de aproximadamente 1,5 milhões de habitantes e com uma frota de aproximadamente 900 mil veículos, segundo dados do IBGE. O Senatran sugere que os municípios tenham um efetivo mínimo de 1 agente para cada 1000 veículos. Sendo assim, o efetivo de agentes, desconsiderando totalmente os veículos da região metropolitana, que acessam diariamente a cidade, deveria ser no mínimo o dobro.
É interessante pensar na coincidência de, exatamente na semana em que começo a escrever sobre o déficit no efetivo de agentes de trânsito daqui, um agente seja sequestrado em outra grande metrópole. Considerando que, nos comentários que circulam na internet desqualificando o trabalho e justificando a extinção dessa categoria, muito se fala no fato dos agentes “se esconderem” atrás de árvores, postes ou muros para multarem (geralmente aqueles “pobres e injustiçados” condutores que apenas estavam acima da velocidade máxima da via, a míseros e inofensivos 70 ou 80 km/h).
A esses, eu deixo um questionamento para reflexão: Não estarão os agentes desaparecidos por estarem sendo sequestrados ao invés de estarem escondidos (contém ironia!)? Sequestrados ou escondidos, uma coisa me parece inegável. Se existe algo que há tempos vem sendo alvo de constantes sequestros é nossa dignidade, nossa motivação e nossa autoestima. E isso, diferentemente do agente de São Paulo, parece estar longe de nos ser devolvido…
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