No ano de 1959, surgiu a ideia para a criação daquilo que viria ser o Aeromóvel. Durante uma conversa no pátio do aeroporto de Seattle (EUA), o empresário Ruben Berta, então Presidente da extinta Varig, proferiu uma frase que acabou motivando um novo desafio na vida de Oskar Coester, criador do Aeromóvel: “Não vai adiantar mais aumentar a velocidade do avião. O problema é chegar ao aeroporto!” A partir desse diálogo com Berta, Coester sentiu-se impelido a tentar descobrir uma solução capaz de melhorar a mobilidade e o transporte de maneira geral, em um cenário urbano cada vez mais afetado pelo congestionamento.
“Distância não mais se mede em quilômetros, e sim em tempo.” (Oskar Coester)
Ao conhecer mais a fundo a tecnologia do Aeromóvel durante um seminário há dois ou três anos, apresentada por um dos engenheiros responsáveis pelo projeto, somente uma frase pôde descrever o sentimento que carrego até os dias de hoje: o bom e velho ditado popular “casa de ferreiro, espeto de pau”. Para aqueles que, assim como eu, nasceram, cresceram e viveram a vida toda na cidade de Porto Alegre e que, ao passarem em frente ao Gasômetro ou à Câmara de Vereadores, se perguntavam pra que diabo serve aquele “trenzinho” parado lá em cima daquela ponte há anos, que mais parece uma escultura ou obra de arte inacabada? Ou mesmo àqueles que nunca vieram à Porto Alegre ou nunca ouviram falar do tal Aeromóvel, aí vai a explicação…
O Aeromóvel é um meio de transporte urbano automatizado em via elevada e baseia-se no princípio de redução do peso-morto por passageiro transportado. Sua propulsão é pneumática, utilizando-se de gradientes de pressão que se estabelecem no interior de um duto localizado na via elevada logo abaixo do veículo e que propelem o mesmo através do empuxo fornecido a uma aleta solidária ao veículo, que se movimenta sob rodas de aço em trilhos tradicionais. O ar é insuflado pela ação de turbo-ventiladores centrífugos de acionamento elétrico, dispostos em casas de máquinas localizadas em pontos determinados no solo.
O valor de implantação do Aeromóvel é até quatro vezes menor do que outros modais do tipo Automated People Mover (APM). Incluindo obras civis, veículos, estações com portas de plataforma e ar-condicionado, propulsão e controle automático, o custo médio do modal é de R$ 35 milhões por quilômetro de via simples ou R$ 65 milhões por quilômetro de via dupla, enquanto o custo médio do quilômetro do seu concorrente direto, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), varia de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões. Já a comparação com o metrô não é possível, pois esse é um modal de altíssima capacidade de transporte, enquanto o Aeromóvel possui capacidade intermediária, similar ao VLT ou ao monotrilho, servindo para alimentar os sistemas troncais.
Segundo o arquiteto Ado Azevedo, envolvido nos projetos dos aeromóveis da capital gaúcha e de Nova Iguaçu (RJ), a demora nacional e mundial para se investir nessa tecnologia se deve a uma tradição de investimento em transportes rodoviários, especialmente no Brasil. “O metrô é a solução para linhas com muita demanda, mas o aeromóvel é mais eficiente e econômico do que as linhas de ônibus. Com a conclusão da linha de Porto Alegre, as pessoas vão se dar conta de que ele é uma possibilidade, que o nosso investimento em transporte rodoviário foi um erro histórico. Agora é uma questão de tempo até superarmos o paradigma rodoviário”, acredita ele.
“O bem estar individual só é possível onde houver o bem estar coletivo. Por isso, todo empreendimento precisa servir a sociedade antes de servir-se dela.” (Oskar Coester)
A tecnologia brasileira foi implantada na capital da Indonésia, Jacarta, em abril de 1989, sendo a execução do trabalho concluída num curto prazo de oito meses para a instalação dos pouco mais de 3 km. Logo, o Aeromóvel se consolidou como meio de transporte de uma área turística da cidade, localizada no interior do complexo temático Taman Mini Indonesia Indah. Esta foi a primeira operação comercial do Sistema e que tornou o Brasil uma referência da tecnologia Aeromóvel. No entanto, aqui em Porto Alegre, somente em 2013 a linha de pouco mais de 1 km, que liga o Aeroporto Salgado Filho à estação Aeroporto do Trensurb, foi inaugurada.
Sou um verdadeiro entusiasta de novas tecnologias. Desde aquela palestra com o engenheiro do Aeromóvel fiquei completamente fascinado pela tecnologia, a ponto de citá-la como meio de transporte alternativo e, principalmente, viável em diversas empresas nas quais palestro. Em uma delas, recentemente, fui questionado por um funcionário que assistia a palestra “por que outros países, além da Indonésia, não utilizavam ainda essa tecnologia se ela fosse tão boa?” Me ative a responder com outra pergunta: Que tipo de veículo você acha melhor, com motor elétrico ou a combustão? E qual dos dois tipos nós mais vemos na rua? Fica a questão, que é muito melhor explanada nas palavras do próprio Coester:
“A maior dificuldade ainda, é vencer preconceitos. Toda inovação sempre entra em choque com costumes, tradições e interesses.” (Oskar Coester)
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