Estudo realizado recentemente pela Proteste constatou níveis elevados de álcool em diversas marcas de pão de forma disponíveis no mercado, podendo ser, inclusive, detectados pelo bafômetro.
Após mais de 15 anos do advento da lei seca no trânsito do país, a notícia causou grande alvoroço nas redes sociais e nos grupos de especialistas de trânsito. Não pretendo aqui me aprofundar no tema, uma vez que uma infinidade de conteúdos já foram criados trazendo explicações ótimas das implicações do estudo para o tema, dois dos quais indico ao final desse texto. São eles um vídeo do canal Manual do Trânsito, do grande amigo Professor Carlão e um episódio do Podcast do Mestre Julyver Modesto.
Ocorre é que, diante do circo que se formou em torno do assunto, digno de dividir palco com outros espetáculos como o show de horrores do aumento da pontuação da CNH, o desaparecimento do extintor mágico, os malabaristas do kit de primeiro socorros, os palhaços (das placas) do Mercosul e os antigos e já conhecidos truques do enxaguante bucal e do bombom de licor, é impossível não fazer analogia à política do pão e circo.
Essa expressão refere-se a uma prática dos governos romanos durante a fase imperial. Esta política consistia na distribuição gratuita de pão e trigo à população e na realização de espetáculos públicos, como lutas de gladiadores e corridas de bigas no Coliseu e no Circo Máximo. O objetivo era apaziguar a população, principalmente a plebe, e evitar revoltas populares. A expressão "pão e circo" foi usada pela primeira vez pelo poeta satírico Juvenal, nas suas Sátiras, durante a administração de Caio Graco. Juvenal criticava aqueles que se contentavam com comida e diversão grátis, sem questionar o desempenho dos governantes.
Felizmente, essa forma de política ficou no passado, já que atualmente, em certos locais do país, o quilo do pão francês, que é item importante na dieta da população, pode custar até R$27. Praticamente o mesmo preço de uma mensalidade do Premier, que custa aos seus assinantes R$29,90 por mês.
A pesar disso, ainda somos agraciados gratuita e diuturnamente com shows do globo da morte do álcool. O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) divulgou, no ano passado, um dossiê sobre os acidentes provocados pelo uso de álcool no país, a partir de dados coletados do Ministério da Saúde. O documento revela que mais de 10 mil pessoas perderam a vida em decorrência da mistura de álcool com direção em 2021, resultando em uma média de 1,2 óbito por hora.
Mas se você, assim como eu, é usuário tanto do trânsito brasileiro quanto do pão de forma, não se preocupe com esses dados... aqui vai uma receita que pode ajudá-lo a não ser surpreendido ao ser abordado em um blitz:
Em um país de dimensões continentais, aplique uma fiscalização de trânsito bem equipada, instruída e valorizada;
Reserve recursos suficiente para educação e USE-OS;
Reveja as metodologias para formação de condutores;
Invista em tecnologia, em pesquisa e em políticas públicas;
Adicione campanhas publicitárias a gosto;
Misture tudo e deixe descansar por alguns anos;
Após fermentar, sirva a toda a população.
Não sei ao certo se essa receita vai resultar em um produto alcoólico ou não. Mas sem dúvidas preservará algumas vidas no trânsito.
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